segunda-feira, 31 de outubro de 2011

MARFIM



MARFIM

O branco sal da tua pele
tanto demora nos meus lábios,
neste cálice transparente
rente ao marfim das tuas palavras.

Pão de muitos dias
coberto de veludo e espinhos
sangra sobre a mesa
na umidade dos arcos,
na sombra aberta das minhas mãos
espalmadas em solidão.

Segue ao longe
este rio de negro vinho,
tortuoso chumbo / sangue sob meus pés
espalhando pedaços de sonhos
sobre os escombros do caminho e a colisão da noite...
...enquanto eu te espero!



TRAJETO


TRAJETO

Minha estrada não tem
começo nem fim.
Apenas anda em direção ao sol.
É um caminho de lembranças trazidas da alma...

Hoje, te sinto tão perto.
Neste silêncio da manhã que me acalma,
nesta canção do vento
que me fala de uma benção vinda de Deus...

Eu sou a própria canção
que penetra em sua alma
entreabrindo a porta da sua vida...

Deixa-me entrar...
Escuta-me!...
Sou a própria emoção que te beija
quando te imagino ao meu lado,
neste gesto delicado de passar a mão sobre os teus cabelos...

A DEMORA


A DEMORA

A coca cola que eu estava tomando, esquentou...
Perdeu o gás, ficou sem graça.
Igual as flores sobre a mesa, murcharam,
desbotaram enquanto te esperavam.

A comida que eu cozinhei - esfriou!
Perdeu o sabor, perdeu o tempero
e o relógio marcou a demora
nos ponteiros sorrateiros
que andaram em círculos
pelas paredes nuas...

No ceú tem uma estrela.
Parece azul...não quero olhar.
Não dá para olhar o céu,
a lua esta por lá.
Escondida. Sei, está me olhando
querendo comigo navegar
em seus mares, em seu silêncio.
A minha lua nua em suas mãos
e em suas costas
a lua que eu pintei...

CHEIRO DE MAR


CHEIRO DE MAR

Este caminho orvalhado
onde ando pela manhã
leva-me em espírito
volitando sobre as montanhas,
pela serra em direção ao mar...

Verde mar que ondula e

marulando envia uma carícias
premissas de um beijo.
Um carinho de sal
em meus lábios de ar...

Uma concha, uma estrela
um coração na areia...
Vem a onda e apaga,
faz bordados de renda
enlaça os meus pés
nos teus rastros na areia...

...ah, essa manhã molhada,
com cheiro de mar distante...

INCONGRUÊNCIAS


INCONGRUÊNCIAS


Das feridas do céu
o sangue derramado gota a gota,
tinge minhas toalhas brancas, inaculadas,
enquanto os porcos tropeçam
em sua voracidade filosófica.

Os aviões, presos nos fios da teia
giram, giram sem parar
reluzindo sua carcaça corroída
indiferentes ao vômito
que escorre nos esgotos gratuítos...

Rios de chagas perpétuas
deslizando por entre flores brancas e amarelas
lambem com suas línguas toscas,
as vibrações que desvirginam a manhã
que nasce... enquanto nós,
ah, nós dormimos...


PAIXÃO


PAIXÃO

A paixão tem a cor
das areias quentes...
Cor do fogo que derrete a areia,
faz líquido vidro
escorrendo em mim...

Sou areia...
Vidro vermelho,
sangue e areia.
Vidro e sangue...

Você é o fogo...
Calor do fogo
areia quente,
areia de fogo
fogo quente,
vidro escorrendo em mim...

Nós dois...
Paixão vermelha
fogo e areia
vidro líquido, areia que escorre
amor faz vidro derretido
em mim...




*imagem: Emarginatus - Marcelo Tanaka

sábado, 29 de outubro de 2011

LEVEZA II




LEVEZA II



Não só leve a tua voz, / também é leve o teu silêncio

tudo em ti é leveza./tudo em ti é beleza
Teus olhos claros,/dois lagos tranquilos
teus cabelos longos,/fios de Ariadne

tua pele macia... Tudo é leve./Tudo em você é suave...
A fada que um dia eu sonhei./Brinca agora em teus sonhos

A esperança que faz continuar./Transformando sonho em realidade
Entre sonho e esperança,/a vida em primavera te sorri
diante do peso da vida,/das tristeza e amarguras

tu es a coisa mais leve./Tu é a paz que eu busco.
Não só é leve tua voz,/e leve a tua presença se faz


tudo em ti é leveza./em ti tudo é ternura.
Tuas palavras de carinho,/me envolvem

tuas atitudes de amizade,/me fortalecem
teu coração de menina...Tudo é leve./e leve assim, flutua nos sonhos – feito fada.

Dony Moreira - Luciah Lopez





PRISMA


PRISMA


...o que me consome e me transforma
é esse teu amor meio profano meio etéreo
que deságua em mim e me faz girar na luz de um prisma
dividindo minhas cores
e juntando minha alma com a sua
neste abraço que transcende e nos faz eternos
enquanto nos amamos neste carrossel dos anjos...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ESTOU SOZINHA


ESTOU SOZINHA

Estou sozinha...
Pela janela do meu quarto
Só a solidão branca da lua
Tinge meu corpo dessa tristeza prateada.

Tudo em volta é silencio,
Tudo em volta é ausência.
Repico minhas palavras,
Penduro em cabides as minhas lágrimas...

Fecho os meus olhos
Busco meu sono
Perco-me em sonhos,
Aconchego-me em teus braços...
...amor!...

MORRE O DIA



MORRE O DIA

Flores na mesa
Estrelas no céu.
Um beijo em meus lábios
O sol detrás da serra...



Onde você esta?!...
Morre o meu dia
Nesta cor púrpura e tristonha.
Tangem sinos no meu pensamento,
Enquanto da rosa vermelha,
Verte uma lágrima...

Meu rosto colado na vidraça
Assiste o bailado das folhas...
Acenam adeus... De ilusão, meu
Coração padece... Minha alma ferida
Ainda te espera, temendo que não volte mais...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

SE É AMOR


SE É AMOR

Alguém caminha pela rua.
Os cachorros latem...
A noite é silêncio.
Que faço nesta hora?!
Tenho os meus olhos entregues a tristeza.

Já não sou felicidade.
Me falta um amor
Que não vá embora, que não tenha hora.
Que dance comigo e me de um beijo.
E na madrugada um sorriso um afago,
O calor do corpo...

Nem sei se é
Paixão ou amor,
Mas o que importa se eu
Quero apenas, minha mão
Presa com força, pela tua mão...



UM SONETO PARA VOCÊ



Um soneto para você

Tentei fazer-te
um soneto lindo
mas fugiram-me as rimas
do que dizer-te.

Ouvi ao longe
um repicar de sinos
e divaguei
no malhar do bronze.

Soprou um vento
a zombar de mim
roubando-me o pensamento.

Restou somente
o farfalhar das horas
a embalar teu vulto ausente.


A NOITE E A LUA



A NOITE E A LUA

Ninguém nos viu...
Estamos protegidos
A noite já chegou
Trouxe com ela, a lua.
Quase caindo do céu.

Vem, grita comigo.
Grita para o mar
Afoga meus lamentos
E meus desejos
Nestas águas mornas.

Segura minha mão
Vamos correr pela areia
Ninguém nos viu,
Somente a lua...

E nas sombras da noite
Dessa noite sem dono
Onde só existimos nós dois
Vem, me beija e me ama.

CHUVA


CHUVA

Chuva derramada nesta terra seca
embrenha-se pelas rachaduras
deste solo inértil...

Some, pequenina gota
derradeira lágrima
de Nossa Senhora
derramada por este povo sofrido...

Que peleja
neste chão ressequido,
feito verme
devorando sonhos
de criança inocente.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ÁGAPE


ÁGAPE


Comer do trigo sovado
banhado em cristalina água
faz meu peito
cair numa espera,
que espera o cio da terra...

Saciar minha fome
nestes grãos imaculados,
profanar com minha boca impura
a semente pequenina
roubada da fecundidade da terra.

E de forma tão sutil,
fazer parte deste mistério
que traduz com clareza
a sapiência do Ser Supremo.


*imagem: Trigal - Van Gogh

CURVAS PERFEITAS


CURVAS PERFEITAS

A chuva cai.
Abençoada lava a terra
Germina a semente
Vida flor explodindo em pencas.

Depois sol
Vermelho sangue
A dourar as curvas
Perfeitas
Rubras
Carnosas
Pendentes
Da macieira em flor/fruto.

QUEIMADAS




QUEIMADAS

A água não cai...
No céu a poeira
Faz-se nuvem assustadora.

A semente
Lentamente
Fatalmente,
Adormece num sono eterno.

O verde se faz cinza
Do cinza brota o vermelho.
Crepitante
Ondulante
Do fogo vivo
Que tudo consome.

NÃO TE ESQUECI


NÃO TE ESQUECI

Em meu quarto
olhei o céu pela janela.
Vi uma estrela.
Silenciosa, solitaria no veludo azul...

Seria a sua estrela
o seu ponto de luz,
irradiando um carinho
um afago em minha alma?


A luz solitária
brilha sobre o oceano,
reflete-se nas ondas do mar
O mar triste e salgado.

A estrela na noite silenciosa
enquando sobre a cama
tento inutilmente te esquecer.

VITRAIS


VITRAIS


Este céu encapelado
convida-me em oração
a viajar nesta carruagem de fogo
que trilha os caminhos do sol...

Somente os anjos
em procissão acenam
sinalizando os vitrais coloridos
nesta hora de silêncio e reflexão...

Catedrais suspensas
iluminadas pela luz das velas
mostram em seus altares
a santificação da Carne e do Vinho
na elevação da Hóstia...
NOA...



*Basílica de São Pedro




terça-feira, 25 de outubro de 2011

MAR


MAR

O resto da sede da tua boca
se refaz nas mágoas,
no remoer do cinza dia.
uma dor
uma flor de lótus
um ruflar de asas,
um falcão peregrino
uma íbis que canta,
uma duna ao sol.
O deserto é um mar
teu amor um veleiro,
vou com você, singrar este mar.



TARDE



[...] E você virá!

Vou plantar cataventos na areia.
Fazer um canteiro
girar flores de papel
no vento seco...

Este sonho que me rodeia
feito luar prata em céu safira
me fala em versos
que minha alma já te espera...

O sonho é magia de fadas
que arde e queima a pele molhada.
Neste abandono amarguei um pranto
de saudade da tua boca...

E pela tua alma, minha alma envolta
refaz minha vida
numa carícia de leveza e silêncio
quando a tarde chega devagar...
Bem devagar...



POR AMOR


Quando o amor me vem
em ondas
deixo-me arrastar...
Não importam as feridas
as dores as mágoas as lágrimas,
...lágrimas secam.

Vivo o amor
me deixo envolver
envolvo em meu carinho
sinto a alma leve...

Não é justo não viver
Fugir, desviar, camuflar
e chorar escondido...
...Não. não faço isso, se choro
é por amor e por amar, por me sentir
capaz de amar e me fazer feliz.




(IN)VERSOS




Em meus versos
desnudo-me
exponho minha alma agonizo
como animal ferido sangro,
derramo e deixo escorrer
o amor que existe em mim.

Em meus versos
sou criança, mulher e amante
sinto as dores e
nas cores do arco-íris um parto de luz
num choro de velas...

Em meus versos
eu te quero
te procuro neste labirinto de frases,
palavras camufladas (in)verdades
sob a capa do amor.

NOSSA HISTÓRIA


O desejo nasce
Na luz suave do abajur
Quando em seu peito
Repouso minha cabeça...

Neste ninho de algodão e sedas
Nos seus beijos eu me perco.
Em suas mãos me deleito
Quando me acaricia a pele
Convidando ao amor...

Então te recebo e me entrego
Nos seus caprichos navego
E fazemos amor,
Escrevendo a nossa história
Ungindo nossos corpos nus
Com gotas do sândalo
Do mais puro amor.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

AS ROLINHAS





As alegres rolinhas de condomínio
já assinam a Net
tem cartão Visa, Master Card
Vão a Miami, Londres ou Paris...
Foninho de ouvido
enquanto escrevem poesias e prosas ou
malham as perninhas
no "step" - se estrepem e se danem...
Comem alpiste suíço
pra manter o corpinho roliço e
lavam roupinhas em Brastemp moderna
fazendo o varal na sacada
penduram as roupinhas (calcinhas)
sinalizando assim
que o caminho esta livre
que o Morcegão já pode chegar...
...e ele vem, aterrizar à meia noite...NHOCT!
Crava os dentões
no pescoço fininho
da rolinha lindinha...



TEU CAMINHO



Clareou...

Pássaros fazem sinfonia em minha janela
Orvalho encantado
Escorrendo nos fios de ouro das teias
A terra serenada
Respira o teu nome
Transpira e me inspira...


Amanheci...


Sou tua estrada
Caminha teus passos
Pelo destino do meu corpo
Faça a tua viagem
Em meus braços terá um amor.

UUM RIO QUE PASSA


Fecho os meus olhos
quando ouço as águas
deste rio de corrente
que surge do nada
que passa em meu quarto
e me arranca de mim...
Na dor do abandono
me solto nas águas
me bato nas pedras
envoltas na espuma...
E nesta boca que morde
os meus sonhos entrego
minha vida renego
E a correnteza me leva
despida, nua de ilusões
nos desejos destas águas profanas...
Quando me sinto sem forças
tua mão aparace
teu abraço me aquece
teu olhar me convida
teu beijo...
ah, teu beijo...
teu beijo me ressuscita.


NOCTIVAGO


Há em mim
uma existência encoberta
acorrentada em quieta masmorra.
Uma existência de tempos soberanos
de castelos e brasões
de cavaleiros e armaduras...

Sinto ainda
em resquícios da memória
o perfume dos lírios
a dança dos trigais, o calor das forjas
o borbulhar do aço e o nascer da lâmina
que faz o talho e expõe o homem.

Do alto da torre
meu olhar trigueiro, apaixonado,
espera pelo teu vulto incasto
de cavaleiro negro
retornando de antigo cativeiro.

E nesta colisão de tempo-espaço
sombras anonimas passam por mim
queimando incenso,
e velando meu sono...



CORAÇÃO DE VIDRO


CORAÇÃO DE VIDRO

O crepúsculo corre em procissão
no silêncio que me percorre
enquanto estendo meus sonhos
Na tarde que morre e
em cada folha qe cai...

Aos meus pés um sol-posto
um vidro de perfume vazio
uma flor murcha
um papel de bala
uma ponta de cigarro
um rei morto...

A dor dá asas as borboletas
elas voam, o céu não tem limites
os anjos não tem pressa
e as lágrimas secarão
quando o sol renascer...

... eu não vou olhar para trás
vou caminhar entre as flores
não carrego o passado.
Quero rosas em minha janela
um sonho, um beijo, um novo dia...

...quebrou, coração de vidro.



A LUA E O DRAGÃO


Entre nuvens escuras
e pesadas
luto no céu
lua negra
lua sangue
gota viscosa em
quarto crescente...

Sangue vertente
chuva na terra
orvalho em flores
beijo de morte
na boca do dragão...

...mas quem morreu foi somente uma lua!




*imagem:Giusto Menabuoi

PAZ COLORIDA




Paz Colorida

Vou pintar minhas paredes.
Fazer um arco-íris
Verde, azul, vermelho e amarelo.
Mas não quero em seu final
Um pote de pirita, frio mineral.
Sem calor, ouro de tolo.

Vou fazer meu arco-íris
Com amor por todo lado
Vou vazar cada palavra
Feito renda de filhós
Tecer em rocas de madre pérola e
Estender no meu varal...

Acender mil velas coloridas
Mil pétalas de rosas
Queimar incenso de anis
Perfumar meu quarto de dormir
E entre meus lençóis - sonhar
A minha paz colorida.

domingo, 23 de outubro de 2011

OS VENTOS




OS VENTOS


O mistério do mundo
derruba um véu
entre minha moral
e as coisas ilícitas.

Mas que importa,
se em todas as tardes
a breve história de quem ganha
atravessa esse abismo de delírios e loucuras?...

Os relâmpagos de ilusão
me mostram o vazio do meu peito sem coração
e um vento de ventania
traz o uivo do lobo ferido
que recobre-me
com os mistérios de mim mesma.



VELHO CASARÃO AZUL




Velho casarão azul...
Hoje em silêncio
leio os  segredos
entranhados nas paredes
tristes e carcomidas.
Pelos cantos
tantas promessas, tantas alegrias
e desilusões em
lágrimas derramadas.

Velho casarão azul...
Nas suas águas sob o céu
velhas telhas, velhas poeiras
velhas escadas de degraus cansados
velho sótão de fantasmas tristes,
velhas teias imitando rendas pelos beirais.

Velho casarão azul...
Suas entranhas clareadas
pela luz do entardecer
borda crivos pelas paredes
ilumina retratos antigos e esquecidos
ilumina o  piano emudecido.

Velho casarão azul...
Nas suas varandas  outrora floridas
onde beija-flores faziam ninhos,
só os cactos espinhentos e
velhas heras serpenteiam
dando abrigo à passarada.

Velho casarão azul...
De sua alma de lavanda
dos lençóis de linho e cortinas de renda
do cheiro de pão e vinho,


das flores sobre a mesa
dos braços que me abraçavam, 


dos lábios que me beijavam
restou somente um divagar incerto
nos meus passos de criança
... e o eco das minhas risadas.



Velho casarão azul...

É tão triste a sua lembrança
gravada em ladrilhos gastos
...é tão triste a minha saudade!



SEARA DE SANGUE



SEARA DE SANGUE

Ir além deste raio de luz
fazer brilhar este sol
que se esconde
adiando a hora sazonal
contendo as promessas
suplicando perdão.

Fazer valer esta oferenda
que regressa ao peito meu
por atalhos
repicados de lembranças
nesta seara vermelha de sangue.


VIAJANTES


VIAJANTES


Somos apenas viajantes
em naus sem velas
navegando ao acaso
vislumbrados pela liberdade
corroídos pelas ferrugem.

Nau sem porto
nau sem velas,
mensageira e guardiã
de todo calafrio
deste céu onipresente.


TEMPORAL


TEMPORAL

E a vida segue...
com suas flores
suas cores
seus sons secretos...

No horizonte vermelho de cada dia
uma esperança padece
recolhida em seu silêncio...

Depois de cada temporal
caem pétalas de rosas
espalhadas nas cores da paixão...

Nos ferros retorcidos
nos fios corrídos
nos retratos estáticos /gritantes

emoldurados em minhas retinas...





*imagem: Jorge Damião

QUANDO A NOITE VEM


Quando a Noite Vem

Me sinto indefesa
quando a noite vem
no silêncio absoluto do meu quarto
um rio de amor tem sua correnteza.

Me arrebata e aprisiona
de mim mesma quero figir
da pele que arde, da insensatez
do beijo ensaiado
das mãos tremulas e suadas...

A correnteza toma-me.
Meu corpo adoece, rendido
às águas, meus lábios,

meus seios meu sexo e meus sentidos
tudo imerso

no furor das águas deste rio
que passa pelo meu quarto...

ENCANTO



ENCANTO

O que escondo nessa incerteza lasciva
São os meus lábios que sua boca beija...
A noite quando em minha cama o sono me foge
esqueço-me de mim de minhas paredes
das minhas pulseiras dos e meus anéis.
Nesse infinito pensar me desrespeito entre tantos ais
e brindo esse amor que se inscreve
se publica e se aplica.
Mas, eu quero uma biografia
um decifrar de linhas
porque o amor é um eterno despir de regras.
Então me questiono - se estou ou não
violando correspondência.

PRESSENTIMENTOS



PRESSENTIMENTOS

Tristezas de tantas almas
Viajam nestas areias seculares
Nos ventos, nas tempestades.
Nas dunas silenciosas...

Sufocam de saudade
Os grãos de vidro coloridos
Nos oásis, nas sombras das palmeiras...

Nestas areias de sangue
Enterrei meus pés em tenra infância
Ouvi da concha quebrada
Que o deserto foi mar um dia...

Nas brasas e na fumaça dos narguilés
Djins beijam o vento da noite
E com os olhos rasos d água
Dizem-me que tudo é música
E tudo será poesia
Enquanto meu coração pulsar
Enterrado nas areias do deserto.

Por Decreto



“ Suave é a noite.”
F.S. Fitzgerald


POR DECRETO

Preciso saber
Falar sobre o que sei
Dizer das coisas
Que sinto...

Eu sei!

Mas como falar,
Se tua boca
Cala-me
No eco das palavras
No decreto da incerteza?!



INDIFERENÇA


INDIFERENÇA

Sofrimento não tem preço
No ventre que espera
Infindáveis penúrias
Calma e sossego,
Nas vísceras que ressecam.

Nas viseiras, na indiferença
Nas bocas a mingua
No corpo de pedra,
Só um silêncio de sepulcro...




*imagem: Sebastião Salgado



TRISTE CAMINHAR



TRISTE CAMINHAR

Minha noite será eterna
onde minha sombra
triste, alquebrada
caminhará sobre espinhos...

Deitarei sem descanso
em minha cama de pedra
sem teus carinhos
sem tuas palavras
sem teu amor...

Minha boca
seca de beijos
murchará qual flores
esquecidas em túmulos...

RELÓGIO



RELÓGIO

As horas que não passam
escorrem do relógio
percorrem
latejam
lambem o azulejo
se escondem pelo chão...

Tristes segundos
amargos, mofados
despejados,
dobrados em origami
esquecidos em um canto qualquer...

FLORES


Flores

Na varanda
cores suspensas
numa cortina de flores,
enfeitam meus olhos
neste claro escuro
do nascer do dia.

NO SILÊNCIO


NO SILÊNCIO


Tudo é silêncio
aqui
onde repouso meu corpo
sem lençóis de cetim
sem perfume de jasmim,
apenas
eu
a desejar você.

Nesta guerra
neste duelo
qual a parte que me cabe
um beijo? Um aceno
ou teu coração?!

Neste festim, neste Sabá
onde dançam as feiticeiras
a lua te clareia...

Desce um manto
que ilunina
tua boca
que tanto anseio.

SEU BEIJO



SEU BEIJO

As águas que o céu derrama
escorrem pelo meu corpo
desnudo de amor,
correm em filigranas
arrepiam minha pele...

Essa água branca
núvens em gotas
gosto de sal/lágrimas
meus lábios sem o seu
beijo...

sábado, 22 de outubro de 2011

AMOR E SOMBRA



AMOR E SOMBRA

Uma chuva dentro de mim
refresca essa dor
faz sossegar minh'alma ardente.


Ah... Chuva, caia incessantemente
afogue, transborde pelos meus poros
vaze esse amor/cadafalso, que me oferece as sombras,
restos e lamúrias...


Escorra em águas, toda salobridade das palavras dúbias
dos sentimentos cheios de escárnio
mostre a planura dos meus ossos
na brancura das minhas palavras
já sem o eco da palavra amor.



TANGO À MEIA LUZ



UM TANGO À MEIA LUZ

A boca que me beija
dança um tango
à meia luz...

Intimidade perfeita
com minha alma
quando me despe em silêncio,
já refém do meu corpo...

Converse com as mãos, converse
pelas mãos,
leia-me em hebráico, italiano,
árabe e latim
mas em braille - excita-me!
não abrevie,fome é desejo
alimenta-me...

Pois quanto maior
a espera, maior será
a eletricidade.
Possua-me no chão, no tapete,
no divã ou nas núvens
onde minha alma e sua alma
não questionam o prazer
e bebem-se em gozo
pois amor,
é doação...

ROSA



ROSA

Tranquila
Serena, cálida
na calmaria
da manhã
abre-se
em tons de veludo,
utero perfumado
cálice, corola,
este aconchego
sossegado uma rosa
em meu jardim.

DONA DO SOL



DONA DO SOL

Serei dona do sol
quando me possuires
ao final da tarde,
envolto em aura divinal.

Faras de mim, anjo alado,
criatura suprema
embalada na magia
do cio da nartureza.