sábado, 18 de outubro de 2025

CANTORIAS


O "pássaro" me acordou!

Com seu cantar madrugueiro

Seu trinado belo, certeiro

No meu coração se abrigou.


Fez seu ninho todo faceiro

Adornou o meu corpo inteiro

Um colar de penas e joias

Fui rainha do mundo inteiro. 


Chamou de Sol o meu sorrir

Fez do abraço seu travesseiro

Ah, este pássaro alvissareiro

 Me sonhar com amor verdadeiro.


Veio o dia viandante

trouxe a "tirana" serpente

Que obrejou e se fez ardente

Se enrolou  e um bote  preparou.


Abocanhou num repente

Todo sonho da gente

Destilou sua peçonha

Rasgou o véu de quem sonha

Até que nada restou...


Fez do "pássaro" o seu rei

Fez história  em pergaminho

Traçou destino e um caminho

Pra esse pássaro menino

Que não tem paradeiro.


Vejo as horas e o dia a dia

No calendário muito ligeiro

Um relógio e um tabuleiro

Marcam o tempo derradeiro.


Soprou o vento sorrateiro

Fez redemoinho na memória

Levou o tempo soalheiro

Abriu as asas  pássaro madrugueiro

Voou... voou... voou... teu lugar é certeiro

Vou pra longe do meu coração

Onde o amor  era verdadeiro.



Imagem: Pássaros

aquarela/Canson 




sexta-feira, 17 de outubro de 2025

DÚVIDAS




Lábios e línguas

conhecem o gosto do beijo

e o avesso do céu da boca_______estrelas?

Isto é com você, enxergá-las ou não 

 

 

 

Foto: L.Lopez 

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

SETEMBRO

 


em sua primeira noite,
o vento e a conversa "fiada" [quem sabe, role a noite inteira]
até o orvalho apagar os passos
nas calçadas de petit pave ou
até que o meu olhar descanse em um ponto qualquer.
Setembro...
setembro com suas noites
e a lua - desabotoada,
meio que caindo do céu
fará meu vestido parecer tão alvo,
enquanto eu - olhando a cidade e suas esquinas
suas pedras
suas praças
seus caminhos em preto e branco
suas flores cor de rosa
suas luzes mortiças ( ! )
eu, eu vou tomar uma taça de vinho
e ouvir blues vivenciando os seus dias_________ setembro.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

LUA

 



Ela caminha cabisbaixa.

Indiferente aos cachorros sem dono que a seguem.

As sombras dos postes passam deixando uma mescla de tristeza e solidão.

Ela sente o coração - (sabe que esta viva). Viva!

Esta viva, mas, por quê?

Lentamente seus olhos buscam a lua.

Pálida. Silenciosa. Pendurada num pedaço do céu.

Ama a lua.

Sonha com a sua quietude – com sua solidão.

Ela é a lua!

Sente-se assim – pendurada num pedaço do céu.

Sente o vento nos cabelos – o vento pode atravessar seu corpo, sente-se assim, fluída.

Abre os braços e continua caminhando.

Abre a boca buscando o ar a encher-lhe os pulmões.

Esta vazia. Vazia de si. Oca de sentimentos.

Os cachorros permanecem calados – observando. 

Talvez entendam aquilo como uma brincadeira mas, não participam, apenas observam.

De súbito ela para. Junta as mãos em prece – os olhos marejados 

se desprendem da lua.

Pássaros noturnos voam baixo.

Tudo é silêncio e solidão.

Triste ela percebe que não pode ser igual a lua.

Suas pernas não suportam o peso do corpo – cai.

Aquieta-se enrodilhada feito um bicho.

Os cachorros deitam-se ao seu lado – silenciosamente 

aquecem seu corpo durante a noite fria.



.

Solitude

Aquerela sobre papel Montval


domingo, 30 de março de 2025

OSTRACISMO



esvazio-me da outra que sou

e me encontro no encanto da ostra

resignada na salinidade do mar


há um deslumbramento branco

nas nuvens que modelam imagens

e resenham historias e alegorias


há tantos pássaros descendo do céu ao mar

feito estrelas cadentes

brotando na infinitude azul

inefáveis esculturas aladas...


...esvazio-me de mim

e a cicatriz é paisagem desmaiada na pele

é um poema bordado no sonambulismo

feito uma perola solta no mar.



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imagem Tre Sorelle Studios