não parei pra ouvir o vento
nem mesmo soltar o redemoinho de areia ou o sacrifício da dor
não houve o tempo das lamentações e
nem duvidei do gosto da sopa ou
da chuva ácida que guardei dentro da mala
tudo é enigma
e as dores nada mais são
que alimento pra alma enquanto a carne se liquefaz
na brutalidade dos manguezais
jamais a covardia me feriu
e com suas patas de cascos fendidos
passou rente não deixou rastros
porquê não era nada
nada além da covardia que estanca o olhar
mas não impede a visão
os idiotas mantém a lucidez na prenhez das ideias
e dirão verdades em poemas concretos
sem que nunca seja preciso mais que um rabisco
numa folha ou num saco de pão
as migalhas enchem o papo dos pombos
e as estatuas defecadas em seu silêncio imaginário
engolem o rubor nas faces brancas de guano
enquanto canhões lançam balas incendiarias
os mortos se levantam famintos
agitando xales de teias de aranha
como bandeiras tremulantes
em busca da liberdade e canções profanas
restam as brasas e o calor e o vento lunar
e o Sol que conhecerá os meus dias finais
porque eu nasci num ciclo dentro de outro ciclo
que nunca termina numa estrada por onde rodam
ônibus e carros levando em suas corcundas
a negritude da palavra vã.
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